A ovulação é um processo biológico exclusivo das mulheres, fundamental para que aconteça a gestação, já que é por meio dele que os óvulos são disponibilizados para fecundação.
Entre os hormônios atuantes nesse processo, podemos destacar o FSH (hormônio folículo-estimulante), que induz a maturação do folículo ovariano e a liberação do óvulo, e o LH (hormônio luteinizante), que, entre outras ações, leva à produção de andrógenos que controlam a ação do FSH. Ambos são produzidos em uma frequência pulsátil, ou seja, em picos, e é isso que dá o formato cíclico para o processo reprodutivo da mulher.
Essa interação hormonal estimula os ovócitos primários a retomar seus processos de divisão celular, transformando-os em ovócitos secundários, que são armazenados em folículos nos ovários e liberados de forma cíclica, e normalmente um a um, para fecundação, em um processo que chamamos de ovulação.
Assim, qualquer alteração nesses processos pode resultar em quadros de distúrbios hormonais e reprodutivos, levando a doenças diversas e até mesmo à infertilidade. Dentre os distúrbios mais comuns, a SOP, ou Síndrome dos Ovários Policísticos, se destaca por sua alta frequência, já que acomete de 4% a 13% das mulheres.
Quer conhecer melhor os sintomas da SOP? Continue conosco na leitura do texto.
Doença endócrina, ou seja, originada em alterações hormonais, onde a mulher tem a ovulação comprometida especialmente pelo aumento de andrógenos, podendo apresentar infertilidade e manifestações físicas dessas alterações hormonais, que incluem o aparecimento de cistos nos ovários e o desenvolvimento de pelos em locais tipicamente masculinos, por exemplo.
Apesar de ser uma doença muito comum entre as mulheres, suas origens ainda não estão perfeitamente elucidadas.
A mulher portadora de SOP apresenta níveis rebaixados de FSH, fazendo com que os folículos possam apresentar dificuldades em concluir seu crescimento e de romper-se para liberar o óvulo, permanecendo em estágios imaturos de desenvolvimento, dentro dos ovários.
Como os óvulos não são liberados, não há ocorrência de ovulação e muitas vezes também da menstruação, impossibilitando que a gestação aconteça e levando à infertilidade. Nesse sentido, a manifestação clínica é de ciclos longos, maiores que 40/50 dias (oligomenorreia), e às vezes pode levar meses entre uma menstruação e outra (amenorreia).
Ao mesmo tempo, ocorre aumento dos níveis de LH que induzem algumas células ovarianas a aumentar a produção de andrógenos, especialmente a testosterona, levando a um quadro de hiperandrogenismo, que inclui sintomas como hirsutismo (excesso de pelos), aparecimento de pelos em locais tipicamente masculinos, acne e alopecia (queda acentuada de cabelo).
A SOP é considerada hoje uma patologia metabólica, já que seus sintomas extrapolam as questões reprodutivas. Nesse sentido, a mulher portadora de SOP apresenta alterações no metabolismo da insulina, com a superprodução de insulina atuando de forma semelhante ao pico de LH, induzindo um aumento na produção de andrógenos e, por isso, agravando o quadro de hiperandrogenismo.
O hiperandrogenismo pode se manifestar em 80% a 85% das pacientes com SOP, e, dentro desse quadro, o hirsutismo acomete de 65% a 75% das pacientes, a acne 30% e a alopecia 10 a 40%.
As manifestações físicas do aumento de andrógenos (hirsutismo, acne, alopecia) reverberam também sobre a autoestima e qualidade de vida da mulher, bem como as consequências psicossociais do quadro de infertilidade, que acomete 75% das mulheres portadoras de SOP, e frustra o desejo da mulher ou do casal de ter filhos.
Os critérios mundiais mais aceitos para o diagnóstico da SOP foram estabelecidos em 2003, e ficaram conhecidos como Critérios de Roterdã.
Atualmente algumas especificações foram feitas nesses critérios e, hoje, o diagnóstico da SOP se baseia na presença de pelo menos dois desses três sintomas: oligo/amenorreia (pouca ou nenhuma menstruação), comprovação clínica ou bioquímica do excesso de atividade androgênica (hiperandrogenismo) e a presença de múltiplos cistos nos ovários.
Para a confirmação do diagnóstico deve ser realizado uma ultrassonografia transvaginal, que busca confirmar se há presença ou não dos cistos, e exames de sangue com objetivo de dosagem hormonal, que identificam as alterações no LH, FSH e testosterona.
Qualquer que seja o tipo de tratamento indicado para SOP, deve incluir a mudança de hábitos não saudáveis relacionados à alimentação, atividade física, tabagismo, consumo de álcool, para rotinas mais adequadas ao bom funcionamento do metabolismo.
A obesidade, por exemplo, ocorre em até 70% das mulheres portadoras de SOP, podendo ser considerada como atuante no processo que predispõe à síndrome.
Além da mudança de hábitos, o tratamento da SOP depende intimamente do desejo ou não que a mulher tem de engravidar. Quando não há esse desejo, a terapêutica deve se concentrar em reverter o quadro de hiperandrogenismo, normalmente com o auxílio de contraceptivos hormonais combinados e drogas antiandrogênicas, de acordo com a severidade das manifestações hiperandrogênicas.
O tratamento exige tempo e acompanhamento das concentrações séricas hormonais até que o metabolismo normal do LH, FSH e testosterona estejam restabelecidos, e os sintomas de hiperandrogenismo tenham desaparecido.
Quando a mulher apresenta o desejo de gestar, uma série de medidas diferentes podem ser tomadas, desde a estimulação farmacológica da ovulação até as técnicas de Reprodução Assistida. Entre elas a indução da ovulação para o coito programado é considerada como primeira linha de abordagem, cujo procedimento é feito com drogas antiestrogênicas, inibidores da aromatase ou gonadotrofinas.
Como o risco de gravidez múltipla aumenta com o uso dos indutores de ovulação, é necessário acompanhar o processo com monitoramento ultrassonográfico. A inseminação intrauterina pode ser uma opção quando a gravidez não é atingida pelo coito programado. A taxa de gravidez clínica por ciclo pode chegar a 25%.
A mulher pode ainda contar com a fertilização in vitro (FIV), técnica formalmente indicada para as mulheres cujos procedimentos anteriores não obtiveram sucesso ou quando existem outras causas de infertilidade.
A transferência de embriões frescos é a prática convencional em ciclos de FIV, mas há indícios na literatura de que a transferência de embriões criopreservados (TEC) possa aumentar as chances de sucesso reprodutivo entre as portadoras da SOP, além de ser uma estratégia de prevenção contra a síndrome de hiperestimulação ovariana, muito comum na aplicação dessa técnica em mulheres portadoras de SOP.
O desconhecimento sobre o funcionamento do próprio corpo leva muitas mulheres a sofrerem em silêncio com doenças que podem ser tratadas. Compartilhe esse conteúdo e ajude outras mulheres a conhecer melhor os sintomas da SOP!
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