Durante cada ciclo menstrual, o endométrio, camada interna do útero, é estimulado pela ação hormonal tornando-se mais espesso para receber o embrião: nele ocorre a implantação, processo conhecido como nidação, que dá início ao desenvolvimento embrionário.
No entanto, em alguns casos, o tecido endometrial pode crescer fora da cavidade uterina. O crescimento anormal, de acordo com a teoria mais aceita, ocorre quando acontece o fluxo menstrual retrógado: fragmentos do endométrio, em vez de serem eliminados retornam pelas tubas uterinas implantando em órgão próximos, o que motiva um processo inflamatório.
O endometrioma, um tipo de cisto, é uma das formas de apresentação da endometriose, mais comum em estágios avançados, assim como as aderências pélvicas, que se formam como consequência do processo inflamatório.
Embora a endometriose possa afetar a fertilidade feminina de diversas formas, os endometriomas, particularmente, tendem a interferir na reserva ovariana, provocando um declínio dos níveis e da qualidade dos óvulos.
Para saber como eles afetam a reserva ovariana causando infertilidade, continue a leitura até o final!
Reserva ovariana é o termo que descreve a quantidade de folículos presentes nos ovários. Os folículos são cavidades em forma de saco que abrigam os óvulos primários.
Toda mulher nasce com uma reserva ovariana já formada. Inicialmente são milhões de folículos, que naturalmente diminuem até a puberdade e, posteriormente, a cada ciclo menstrual. Na menopausa, evento caracterizado pela última menstruação, já não há mais folículos e os ovários entram em falência.
O endometriomas se desenvolvem em um ou nos dois ovários, embora sejam mais comuns no esquerdo. Também podem variar de tamanho: de milímetros a alguns centímetros e estão presentes em até 40% das mulheres com endometriose em estágios mais avançados.
A presença desses cistos provoca danos ao tecido ovariano, levando à diminuição dos folículos ao redor e, consequentemente, à redução dos níveis da reserva ovariana.
Eles podem, ainda, comprimir a camada externa dos ovários, chamada córtex ovariano, prejudicando a circulação e causando perda folicular. Quando estão presentes em ambos os ovários, os efeitos provocados na reserva ovariana são ainda maiores. Por isso, mulheres com endometriomas têm ainda mais chances de alterações nos níveis da reserva ovariana.
Além da diminuição dos níveis da reserva ovariana, causando maior dificuldade para engravidar, os endometriomas provocam alterações no processo de foliculogênese, quando há o desenvolvimento e amadurecimento do folículo e, na liberação do óvulo, resultando, dessa forma, em distúrbios de ovulação.
Também provocam um quadro inflamatório, que compromete a qualidade dos folículos e, como consequência, dos óvulos abrigados neles. Óvulos de má qualidade, comprometem, da mesma forma, a qualidade do embrião, levando a falhas na implantação e abortamento.
Por outro lado, o próprio processo inflamatório pode afetar a receptividade do endométrio, o que também resulta em falhas na implantação.
Quando há suspeita de endometriomas são realizados diversos exames. Entre eles estão os testes para avaliação da reserva ovariana e os exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal que, atualmente, com a alta resolução de imagens possibilita a detecção com bastante precisão.
A partir dos resultados diagnósticos é possível, então, definir o tratamento mais adequado para cada paciente.
O tratamento de endometriomas considera a vontade da mulher de engravidar no momento, a idade da paciente, a presença em um ou nos dois ovários e se eles manifestam sintomas de maior gravidade, que podem impactar a qualidade de vida das mulheres portadoras, como dismenorreia (cólicas antes e durante os períodos menstruais), dor pélvica fora do período menstrual e dor durante a relação sexual (dispareunia).
Pode ser realizado pela administração de medicamentos, por cirurgia ou pelas técnicas de reprodução assistida.
Quando a mulher não deseja engravidar são prescritos medicamentos hormonais que promovem a diminuição dos cistos menores, assim como reduzem a ocorrência de dores.
Já a cirurgia é indicada para as mulheres que desejam engravidar, realizada por meio da técnica de videolaparoscopia. Ainda que a técnica seja minimamente invasiva, existe o risco de perda de reserva ovariana quando os cistos são retirados, resultando em redução ou mesmo perda permanente da capacidade reprodutiva. Por isso, para preservar a fertilidade, geralmente é recomendado o congelamento dos óvulos antes da cirurgia.
Se a cirurgia causar infertilidade, o casal deverá recorrer à técnica de fertilização in vitro (FIV), aumentando de forma significativa as chances de sucesso.
Mulheres que congelaram os óvulos também deverão ser submetidas ao tratamento. Na técnica, óvulos e espermatozoides são fecundados em laboratório e o embrião é posteriormente cultivado por alguns dias e transferido para o útero.
Hoje, o método mais utilizado para a fecundação é a FIV com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides), em que cada espermatozoide é injetado no citoplasma do óvulo por um micromanipulador de gametas.
As taxas de sucesso gestacional proporcionadas pela FIV são bastante expressivas: em média 50% a cada ciclo de tratamento, independentemente de ele ser realizado com óvulos frescos ou congelados. A FIV é a técnica de reprodução assistida com os maiores percentuais de sucesso.
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