O processo de liberação de óvulos é essencial para a fertilidade da mulher. Afinal, se não há gametas disponíveis para a fecundação, não existe a possibilidade de engravidar.
Portanto, doenças que causam disfunções ovulatórias podem prejudicar a capacidade reprodutiva feminina e, nesse contexto, a estimulação ovariana desempenha um papel fundamental.
Disfunções ovulatórias, aliás, estão entre as principais causas de infertilidade feminina e podem ocorrer como consequência de diversas doenças, geralmente relacionadas a alterações hormonais e ao ciclo menstrual.
Este texto explica o que são distúrbios ovulatórios e estimulação ovariana e esclarece de que maneira o procedimento pode promover uma melhora na fertilidade da mulher, como é realizado nos diferentes métodos de reprodução assistida e riscos associados.
Se você está considerando iniciar um tratamento para infertilidade, acompanhe o artigo e descubra mais sobre essa importante etapa do processo.
O ciclo menstrual da mulher pode ser dividido em três fases principais. No primeiro período, os folículos ovarianos são recrutados para desenvolver alguns óvulos, sob o estímulo do FSH (hormônio folículo-estimulante).
Na etapa seguinte, geralmente o óvulo que mais amadureceu no período sai do folículo, sob estímulo principal do LH (hormônio luteinizante), e se implanta em uma das trompas de Falópio, onde pode ser fecundado por um espermatozoide.
Os resquícios do folículo dominante, aquele que gerou o óvulo mais maduro, tornam-se corpo-lúteo na fase seguinte, isto é, uma estrutura temporária que libera os hormônios progesterona e estrogênio.
Em cerca de 14 dias, caso a fecundação não aconteça, o corpo-lúteo começa a se degenerar e a menstruação tem origem.
No entanto, se houver início de gravidez, devido a importância do corpo-lúteo para a manutenção do endométrio (camada interna que reveste a parede uterina, na qual o embrião se fixa), a estrutura permanece no organismo até que a placenta se forme.
Quando estes processos não acontecem como deveriam, pode-se constatar que a mulher apresente problemas ovulatórios, que podem ser causados por alterações nos níveis hormonais e ocasionar disfunções, como ciclos menstruais muito curtos, muitos longos ou mesmo a ausência de ovulação.
Doenças como a SOP (síndrome dos ovários policísticos), secreção inadequada do hormônio prolactina, distúrbios da tireoide e até hábitos inadequados, como excesso de atividade física ou distúrbios alimentares, como anorexia ou bulimia, podem ser responsáveis por irregularidades menstruais e, consequentemente, por disfunções ovulatórias.
A estimulação ovariana ou indução à ovulação é um procedimento que pode ser realizado em qualquer técnica de reprodução assistida com o objetivo de estimular o desenvolvimento e o amadurecimento de um ou mais folículos ovarianos para, assim, produzir óvulos em um ciclo menstrual. Esse resultado eleva as chances de sucesso, devido a maior disponibilidade de gametas para a formação de embriões com a fecundação.
Para atingir esse objetivo, a estimulação ovariana faz uso de medicamentos hormonais, o que é muito importante para a retomada da fertilidade de pacientes com disfunções ovulatórias.
No entanto, a dosagem e a maneira como a indução é realizada varia de acordo com o método de reprodução assistida utilizado.
Nas técnicas de baixa complexidade, quando a fecundação acontece de maneira semelhante à natural, nas tubas uterinas, e quando a paciente tem até 35 anos, trompas de Falópio saudáveis e nenhum há fator de infertilidade masculina associado, a necessidade de produzir óvulos é menor.
No entanto, se o problema de infertilidade é mais grave, como quando há obstruções nas tubas uterinas, problemas ovulatórios, outros fatores associados ou quando a mulher tem mais de 35 anos, devido à redução natural da reserva ovariana, a estimulação tem razão de ser mais intensa.
O protocolo da estimulação ovariana varia, como elucidado, de acordo com a complexidade da técnica de reprodução assistida. Na RSP (relação sexual programada) e na IA (inseminação artificial), métodos mais simples, a indução é menos intensa, pois o objetivo é que os folículos produzam de 1 a 3 óvulos.
Em ambos as técnicas, afinal, a fecundação ocorre nas próprias tubas uterinas e, se houverem mais embriões gerados, existe um maior risco de gestação múltipla ou gemelar, isto é, de gêmeos, trigêmeos, etc.
No entanto, na FIV (fertilização in vitro), a fecundação ocorre em laboratório e, portanto, o objetivo da estimulação ovariana é coletar o máximo de gametas possível e, por isso, a dosagem é maior.
Os embriões gerados serão, afinal, transmitidos para o útero da paciente pela equipe médica e, assim, o controle é possível, por meio da seleção dos melhores óvulos e embriões e do limite na transferência, de acordo com a idade da mulher, conforme recomenda o Conselho Federal de Medicina.
Os óvulos não utilizados em um ciclo podem ser criopreservados para, na hipótese de insucesso em uma primeira tentativa ou para uma gestação futura, serem depois transferidos.
Independentemente da técnica e do protocolo de estimulação ovariana, no entanto, o acompanhamento é parte fundamental do processo, pois permite que a equipe médica, a cada dois ou três dias, identifique por ultrassonografia transvaginal o crescimento dos folículos até que atinjam o tamanho ideal.
Assim, é possível indicar o melhor período para a relação sexual, a inseminação ou a punção folicular, de acordo com o tratamento realizado.
Embora essencial para as técnicas de reprodução assistida, a estimulação ovariana oferece, sim, alguns riscos, embora não se manifestem na maioria dos casos.
A gestação gemelar é o primeiro risco associável — segundo um estudo realizado com 139 casais submetidos à IA, 12,1% apresentaram gravidez múltipla —, mas controlável por meio do protocolo da indução à ovulação, dos limites da transferência embrionária e da utilização de medicamentos hormonais.
Embora seja desejável para alguns casais ter filhos gêmeos, trigêmeos ou quadrigêmeos, como em gestações naturais, essas gravidezes exigem uma maior necessidade de cuidados especiais e influencia maiores chances de situações indesejáveis, como morbidade materna e neonatal.
O segundo risco associado à estimulação ovariana é a SHO (síndrome de hiperestimulação ovariana), quando os ovários respondem demais ao tratamento e continuam a produzir os hormônios, mesmo após cessar o procedimento, o que também é raro.
Se não identificada e solucionada adequadamente, a síndrome pode causar até mesmo riscos à vida da paciente, além de sintomas que variam de acordo com a gravidade do quadro, como gases, dores abdominais, diarreia, vômitos, náuseas, menor frequência de urina, encurtamento na respiração, desconfortos no abdômen e até ganho de peso rápido.
Em mulheres em processo de FIV, segundo estudos, a síndrome é de moderada a severa em 3,1% a 8% dos ciclos, mas esse percentual pode chegar a 20% se a mulher apresentar alto risco de desenvolver a SHO. Felizmente, com o bom conhecimento atual sobre esta síndrome, é possível evitar os casos graves em quase a sua totalidade.
Ainda assim, alguns ciclos de estimulação ovariana podem ser cancelados devido aos riscos associados, o que pode ser considerado um risco às expectativas e finanças da paciente. A criopreservação dos embriões pode ser uma grande aliada nessas situações, controlando o quadro e transferindo os embriões em um momento oportuno.
A estimulação ovariana é uma etapa fundamental na reprodução assistida. Seu objetivo é induzir uma maior produção de óvulos por ciclo menstrual, o que eleva as chances de gravidez. No entanto, é preciso adequar a dosagem ao método de reprodução assistida escolhido, a fim de evitar os riscos de, principalmente, gravidez gemelar e da síndrome de hiperestimulação ovariana.
Por isso, na RSP e na IA, utiliza-se uma dosagem menor para liberar, no máximo, 3 óvulos, enquanto na FIV trabalha-se com maiores dosagens, com o objetivo de liberar mais gametas, aumentar a disponibilidade de embriões e, assim, de mais oportunidades de ciclos de sucesso.
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